Wolf Maya e Carol Puntel falam sobre As Noviças Rebeldes

A terceira encenação do musical As noviças rebeldes (saiba mais aqui) estreiou em São Paulo na última sexta-feira, no Theatro NET que fica no Shopping Vila Olimpia.

Na semana passada, antes da estréia ocorreu um encontro com a imprensa e pude ver algumas passagens de cena, que me deixaram a impressão de que este é um espetáculo que vai animar o público.

Durante o encontro conversamos com Carol Puntel e Wolf Maya sobre a peça e seus trabalhos. Escute as entrevistas abaixo:

Carol Puntel - interpreta irmã Maria Léo

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Alexsandro Neves (AN): você vem de uma série de musicais, mas musicais dramáticos... Carol Puntel (CP): sim, verdade. O Fantasma da Ópera, Cats, Hair, Grey Gardens, My Fair Lady, Francisco de Assis, terceiro com temática de freiras.

AN: como é fazer uma comédia depois de tantos dramas? CP: olha, confesso que é um desafio. Primeiro vez que eu faço e é um aprendizado sempre, né, porque o Wolf é genial, então é um aprendizado.

AN: mas teve o mesmo trabalho de preparação que você teve pro Hair... CP: não, são preparos diferentes. Mas também muito ensaio, aqui eu sou a bailarina também, então eu danço nas pontas, foi um preparo bem puxado.

AN: você continua morando no Rio, vindo pra São Paulo? CP: sim, continuo no Rio.

AN: continua na ponte? CP: Rio-São Paulo, Rio-São Paulo.

AN: e fala um pouco da sua personagem. CP: então, a minha personagem, ela se chama Irmã Maria Léo. Ela é uma noviça, ela é a única noviça na verdade, e ela tem dúvidas. Ela é uma bailarina, ela era bailarina antes, e ela entrou no convento porque o objetivo dela era dançar para servir a Deus dançando, entendeu? Ela queria dançar no Convento, esse era o objetivo dela. O grande dilema é que a Madre Superiora não deixa ela usar o tchu tchu bandeja, que é aquele vestido assim. A Madre Superiora só deixa ela dançar pra Deus com uma camisola longa ou com o hábito, entendeu? Então esse é o dilema dela. Mas ela é uma novata, uma noviça adolescente, às vezes mimada, mas com fé, realmente ela vai durante a peça tentando descobrir qual é o objetivo dela, se ela mesmo quer ser freira ou se ela quer ser bailarina, ela fica nesse dilema.

AN: e qual é a mensagem dela pro público? O que você aprendeu com essa personagem? CP: então, eu acho que a mensagem, deixa eu pensar... É se perceber e aceitar o que realmente é. Não só o que você imagina querer, mas o que você realmente é.

AN: nesse calor, nesse tempo doido que a gente vive, tem algum preparo especial pra voz, algum cuidado especial? CP: sempre técnica, né, sempre vocalizando, aquecendo o corpo, não dá pra entrar sem aquecimento não, tem que aquecer. AN: mesmo nesse calor? CP: mesmo nesse calor.

AN: e o hábito nesse calor? CP: é quentíssimo, muito quente.

AN: bem, sucesso! CP: obrigada. Feliz 2015!

Wolf Maya - diretor do espetáculo

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Alexsandro Neves (AN): essa não é a primeira montagem dessa peça. Como é, qual é a diferença das montagens? Wolf Maya (WM): na verdade, são bem diferentes, totalmente diferentes. A primeira montagem que a gente fez, há 25 anos atrás, eu tava casado com a Cininha de Paula, nossa filha tinha 5 anos, hoje ela tem 30, enfim... Foi uma montagem mais simples, foi uma montagem até meio revolucionária, porque a gente enfrentou até problemas de censura, por falar de uma forma irreverente do clero, enfim... Mas logo de cara isso foi dirimido, viram que a peça era uma grande homenagem a religião católica, mais que ser uma crítica, e a peça fez muito sucesso, ficou 8 anos em cartaz. Aí a gente parou, fomos fazer outras coisas, eu me dediquei muito a televisão, eu fui pra televisão, e aí eu voltei de novo, uns dez anos atrás de novo, com uma Companhia Baiana de Patifaria me propondo fazer com homens. Ela nunca tinha sido feita com homens. Ai eu falei "que legal", né. A Companhia Baiana de Patifaria é hilária, eles são divertidos, eles cantam, eles... um grupo baiano maravilhoso! Aí eu fui pra Bahia, e dirigi lá com eles, fiquei um mês fazendo a peça lá com eles, e foi um sucesso escandaloso. Eles ficaram 6 anos em cartaz, 3 em Salvador e 3 viajando pelo Brasil. Aí o autor americano ficou tão feliz quando soube disso que veio aqui, assistiu, ficou amigo da gente, que foi a primeira montagem no mundo feita por homens, e aí ele convidou a gente pra ir a Nova York. Nós fizemos uma temporada no teatro, na Rua 42, com uma temporada de 1 mês em Nova York. Foi também um barato, uma experiência fantástica! Aí falei: "tá bem, já fechamos o ciclo da peça, né?”. Aí a Xuxa, que assistiu a peça várias vezes, me pediu pra fazer na televisão. Ela queria fazer uma das freirinhas. Ai eu falei ok, lá vamos nós de novo. Chamei a Marília Pera, Marília fez a Madre Superiora, e a gente fez um especial da Xuxa e as noviças rebeldes, que foi um final de ano também há 6 anos atrás muito divertido. Agora, as meninas, as novas atrizes e cantoras do musical junto ao Sandro Chain, que é um belo produtor de teatro musical me procuraram e eu falei "vambora"! Essas freiras não acabam nunca, já são as filhas das freiras (risos).

AN: entendi. Mas qual é o desafio nessa nova direção? Dessa nova geração, né... WM: na verdade, musical no Brasil se especializou muito, até o público musical brasileiro ficou um pouco mais consciente, consistente, exigente, então nós tivemos um capricho maior em nível de produção. As atrizes são excelentes cantoras, então ousaria dizer que de todas as montagens, essa é a mais bem cantada. Essa montagem leva a gente a fazer um disco, gravar um CD, alguma coisa assim, porque é muito bem feita por elas. E o espetáculo é mais esmerado, eu tô mais adulto, as pessoas estão mais também, o produtor é amadurecido, então acredito que vocês vão ver o supra-sumo das noviças.

AN: essa é minha primeira... WM: é tua primeira, é? Você vai sentir esse impacto, é um espetáculo que tem uma empatia muito grande, ele na verdade talvez tenha sido um precursor dos stand-ups, porque elas fazem muito solos, muitos coletivos, e muitas coisas individuais, tem brilhos particulares. Então, cada uma delas tem um número, como se tivesse um stand-up de cada uma. Então, acho que isso dá também uma característica moderna. Adaptamos os textos, né, já passamos por várias primeiras damas, já fomos Ruth Sarney, já fomos Ruth do Fernando Henrique Cardoso... da Marli Sarney, da Ruth Cardoso, agora somos Dilma, citações que a gente faz modernizadas da política brasileira. E é nisso que a peça é meio que adaptada, as vezes alguma coisa do texto é adaptada. Porque primeiro elas compravam vídeo cassete, agora elas compram iPhone 6. São várias coisas que vão se alterando, mas a origem da peça, o humor é dele, é o mesmo.

AN: como conciliar TV, teatro? Você tá abrindo um teatro no Rio, né? WM: é, eu ainda sou professor, eu ainda tenho escola...

AN: como conciliar tudo isso? WM: olha cara, paixão. Acho que você faz tudo do jeito, tudo que você gosta, né. Eu adoro fazer televisão, eu tenho um processo, eu entrei na televisão com 25 anos de idade, eu tô na televisão há mais de 25 anos... Teatro musical também, fui um precursor do teatro musical nos anos 80, final dos anos 80, fiz Blue Jeans, Splish Splash, era o começo do teatro musical brasileiro, hoje em dia fico feliz de um grande padrinho que eu me sindo desse boom do teatro musical brasileiro. Muitos que foram meus assistentes, pessoas que trabalharam comigo, atores que estão aí brilhando, dirigindo, fico muito feliz que o público brasileiro tem recebido. Eu sempre achei que o público brasileiro era muito fechado com musical, e eles adoram a encenação musicada. Então, eu acho que agora eu quero voltar a mostrar coisas minhas, assim, e fazer coisas novas.

AN: algum projeto novo de musical, além desse? WM: olha, eu fiz nesse intervalo, eu fiz algumas coisa no Rio que eu não trouxe. Eu fiz uma coisa linda ano passado, com a Soraya Ravenle, chamada Grey Gardens, que era a história da família da Jackie-O, da Jackie Onassis, que tem um filme, um documentário, aí fizeram uma peça, uma trilha linda em cartaz na Broadway, que a gente montou, mas não pudemos vir pro Rio de Janeiro, que era aquelas coisas de produção, era uma produção carioca. Essa foi a última que eu fiz antes das Noviças, há 1 ano, 1 ano e meio atrás. E eu tenho planos, agora eu tô abrindo o teatro Nathalia Timberg, no Rio de Janeiro, que é um teatro maior, um teatro junto à minha escola lá, que é um teatro de 400 lugares, um palco do tamanho desse, vai dar pra fazer muita coisa. Eu pretendo, nesses próximos anos, me dedicar, voltar a me dedicar mais ao teatro musical, e um pouquinho menos a televisão.

AN: entendi. Só pra encerrar, né, eu sempre faço essa pergunta, principalmente pras pessoas do Rio e de São Paulo: há uma diferença de público, do carioca pro paulista? WM: olha, há uma diferença enorme. Quem diz que não há, é mentira. O público de São Paulo, primeiro ele é um público mais apaixonado por teatro, mais habituado ao teatro. Eu não diria só o musical, qualquer manifestação teatral em São Paulo tem mais garantia, tem mais segurança. Eu adoro fazer teatro aqui, tanto que eu montei o meu primeiro Teatro Nair Belo aqui, minha primeira escola de atores aqui, eu tenho uma relação muito particular com São Paulo, no sentido de formação, de apresentação, de criação. O Rio de Janeiro tem um mercado de televisão muito forte, e é por isso que a gente vive tanto lá, por causa da Rede Globo, e o teatro musical é, em consequência desse boom que aconteceu em São Paulo ressoa no Rio também. Mas a grande explosão, a grande descoberta dessa última fase, esses últimos 10 anos do teatro musical aconteceu em São Paulo. Eu fiz O Beijo da Mulher Aranha, há quase 10 anos, com a Raia e o Falabella, e a gente já sentiu uma força enorme com o teatro musical. Então, eu gosto muito de fazer teatro aqui em São Paulo, principalmente musical, e gosto do comportamento da plateia, principalmente dos jovens. A gente tem um segmento muito bom, porque o teatro é frequentado por adultos, por senhoras e senhores, e o jovem aqui tá frequentando o teatro em São Paulo, tá valorizando o teatro. Eu tô muito feliz de estar aqui, os meus próximos planos todos incluem São Paulo.

AN: tomara que venha Grey Gardens! WM: é, tomara que Grey Gardens venha pra cá, ela é linda... AN: pena não ter vindo. Obrigado, Wolf, sucesso!

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