Juventude transviada?

fotografias e texto por Cristiano Rolemberg

A ex-atriz de filmes adultos Sasha Grey fez o lançamento de seu primeiro romance "The Juliette Society" (Ed. LeYa - 236 páginas, R$ 34,90) na livraria Cultura.

A fila já estava fora do conjunto Nacional as 17:45h e não parava de aumentar para o evento que tinha previsão de início as 18:30h. Com um pequeno atraso Sasha chegou acompanhada de assessores e cumprimentando o público que a aguardava.

A atriz que atuou em mais de 270 filmes adultos entre 2006 e 2011 também já atuou como produtora, modelo e foi musa do diretor Steve Soderbergh no filme independente "The Girlfriend Experience"; agora lança seu primeiro livro que já tem os direitos comprados pela 20th Century Fox terá produção da Anonymous Content (Eternal sunshine of the spotless mind) e direção de Scott Burns (O Ultimato Bourne, O Informante e Contágio)

Para quem não conhece Sasha Grey além dos filmes adultos pode imaginar que por ter se aposentado do gênero ela já esteja velha. Engano...

... A californiana de descendência grega, britânica, irlandesa e polonesa; e batizada com o nome Marina Ann Hantzis tem apenas 25 anos e criou seu nome artístico em homenagem ao vocalista da banda alemã KMFDM (Sasha Konietzko) e ao personagem Dorian Gray do romance de Oscar Wilde. Só pelas influência de seu nome artístico já é possível perceber que a autora não é uma mera aventureira na literatura.

Para completar o currículo de Sasha devemos citar que também possui uma banda chamada aTelecine de eletrônico industrial que tem como influência Kraftwerk, Aphex Twin e Einstürzende Neubauten; e já lançou um livro de fotografias chamado Neü Sex.

Agora que sabemos um pouco mais da pessoa voltemos ao lançamento do livro que narra de forma detalhada a história de Catherine, uma estudante de cinema encantadora que frequenta um clube secreto que tem como membros banqueiros, magnatas da mídia, traficantes de armas, militares condecorados e até mesmo integrantes do alto clero da igreja católica. Toda essa narrativa recebe uma atmosfera misteriosa e erótica desenrolando a trama em meio a realização dos desejos e fantasias mais eróticos dos membros do clube.

Não, não é mais um dos livros de E. L. James (trilogia Cinquenta tons de cinza), e como a própria autora respondeu ao ser questionada sobre a grande onda de romances eróticos após a publicação da trilogia:

“Sem dúvida, abriu as portas para que as mulheres continuassem a explorar suas fantasias, e isso não é algo que acontece com frequência.”

E continua quando fala sobre pornografia na cultura pop atual:

“... Meu grande problema é a hipocrisia da sociedade moderna. Queremos ver nossos ídolos o mais sexualizados  possível...”

“... É por isso que Cinquenta Tons de Cinza é tão importante. Para afirmar que as mulheres não devem se envergonhar da sua sexualidade, assim como o público não tem vergonha de querer sempre mais.”

Aparentemente a resposta à hipocrisia citada pela autora estava na fila de autógrafos. Jovens de todos os tipos e estilos, homens e mulheres hétero ou homossexuais com estilos do mais comportado ao mais alternativo sem vergonha de mostrar que estavam aguardando para ver a autora que com certeza não chegou a eles por meio da literatura, e muito provavelmente através de vídeos da internet. Sasha aparentemente estava se sentindo muito bem no ambiente que fez questão de filmar com o celular ao se sentar na mesa onde ficaria algumas horas autografando o livro para seus fãs, e em seguida deu um sorriso gostoso quando a assessoria informou que haviam providenciado um copo com água e outro com vinho sobre a mesa.

Podemos dizer que Marina Ann Hantzis é o retrato dessa nova geração ao olhar dos mais conservadores (ou hipócritas), confunde liberdade com libertinagem, e não tem medo de se arriscar fazendo planos que parecem fadados ao fracasso por uma sociedade que ainda não se acostumou a atitude, determinação e coragem de enfrentar os padrões até então estabelecidos como certos.