O Casamento – Drama, comédia e erotismo no TUCA

escrito por Cristiano Rolemberg

fotografias por Alexandre Catan

Montar uma peça de Nelson Rodrigues me parece muito fácil, porém encená-la deve ser algo um tanto quanto complicado...

Em 2011 cobri a montagem de Retratos de Nelson na já não tão pequena Itapetininga, que tratava de várias obras do autor incluindo O Casamento. Isso não significa que sejam promíscuo (não?), na verdade o que se conclui dessas duas coberturas é que Nelson Rodrigues retrata como ninguém a mente humana e suas perturbações diante dos desejos e da falsa moral da sociedade.

O Casamento está em cartaz no TUCA até 30 de junho de 2013 e vale a pena ser visto para quem quer entender um pouco da visão do autor sobre os relacionamentos humanos baseados em desejos, e nas limitações que as regras da sociedade impõem sobre a mente de cada um.

Como fotógrafo fiquei um tanto frustrado de não poder registrar a bela montagem da peça, e cabe agora tentar através da escrita simples retratar um pouco do que vi.

A peça relata as 48 horas que antecedem o casamento da filha mais nova de um rico industrial do Rio de Janeiro e é caracterizada como as boas pornochanchadas da década de 70, com figurinos típicos do gênero da época muito bem escolhidos pela figurinista Simone Mina.

O cenário móvel escolhido por André Cortez utilizando mobiliário da época com cores como vermelho e verde água, e madeiras escuras, entra e sai do palco que sofre transições graças à adoção de cortinas que sobem e descem criando a ambientação dos personagens em “diferentes locações”.

Outra coisa que me deixou triste de não poder fotografar a peça foi a ótima iluminação criada por Paulo Cesar Medeiros, sem segredo, mas muito eficaz e de fácil leitura quando essa era necessária. A junção da iluminação com as cortinas nas cenas de sexo passa o espectador ao papel de voyeur, já que a transparência das cortinas nos permite ver, mas não de forma explícita.

Antes de começar a falar das atuações vale ressaltar um ponto que para mim e para a colaboradora Fernanda Andrade, que me acompanhava, a alternância do tempo entre três momentos não ficou clara. Ora estamos 48 horas antes do casamento na festa de aniversário da noiva, ora estamos um dia antes do casamento quando diversos acontecimentos dão a dramaticidade da trama, e de repente estamos no dia do casamento. Nada que atrapalhe ou diminua o mérito de Johana Albuquerque, mas para o espectador menos atento pode parecer confuso.

Para mim as atuações foram irretocáveis! Nessa montagem posso afirmar que todos os atores conseguiram com maestria incorporar a loucura dos personagens do autor, e o ponto que julgo mais positivo foi a forma como a diretora Johana Albuquerque conseguiu fazer uma comédia erótica sem perder a dramaticidade e a loucura rodriguiana, e sem ser vulgar ou se apoiar na sexualidade tão presente nos textos do autor.Vale muito a pena ir conferir a peça, ver, sentir e pensar se Nelson Rodrigues é ou não é realmente um grande conhecedor da mente humana.

Elenco e personagens:

  • Renato Borghi: Dr. Sabino, Pai moribundo de Zé Honório. Consegue através de expressões faciais e entonação da voz demonstra os sentimentos de dúvida, indignação, felicidade, excitação da personagem.
  • Daniel Alvim: Antonio Carlos, Teófilo e o fotógrafo. A transição entre o playboy mulherengo Antonio Carlos e o noivo bissexual Teófilo é digna de aplauso. Se você não prestar muita atenção não imagina que ambos os personagens são interpretados pelo mesmo ator.
  • Diana Bouth: Glorinha (a filha predileta de Dr. Sabino). Ela é a noiva de Teófilo e sem dúvida nenhuma a personagem mais dissimulada da peça. A atriz interpreta uma jovem de 17 anos que se encontra em meio às provações e tentações da idade na época em que a peça é retratada, fazendo com que isso seja facilmente sentido pela platéia.
  • Elcio Nogueira Seixas: Dr. Camarinha, Zé Honório e o Comissário Rangel. Ao interpretar o primeiro personagem que é um ginecologista e pai de Antonio Carlos encarna um médico que cuidou de toda a família de Dr. Sabino, mas que sente enorme desejo por Glorinha, e é também um machista inveterado, um falso moralista como vários que conhecemos e julga a pederastia uma vergonha. Quer que o filho playboy seja alguém na vida e o critica por isso, mas sente enorme orgulho por este fazer sucesso entre as mulheres. Já o segundo personagem é o oposto, Zé Honório é o homossexual que só saiu do armário agora que o pai que o açoitava e não aceitava sua homossexualidade se encontra moribundo.
  • Maurício de Barros: Monsenhor, Xavier, um garçom, Sampaio e Romário. As caracterizações de Monsenhor e Xavier impressionam. O primeiro é o padre que fará a cerimônia de Glorinha e Teófilo, assim como fez para as outras filhas de Dr. Sabino, é o confessor que se confessa sobre suas filosofias quase escatológicas a Dr. Sabino que o procura para conversar sobre a descoberta da homossexualidade do genro um dia antes do casamento da filha, e em outro momento relata a tentação que não se deixou cair quando uma jovem o procurou e se despiu em sua frente. Já Xavier que ao meu ver é o personagem mais puro da peça tem feições quase de dó, um homem que cuida de sua esposa enferma mas é apaixonado por Dona Noêmia, a quem aparentemente só se permitiu conhecer dada a situação em que sua mulher se encontra.
  • Regina França: Dona Noêmia e a mãe de Zé Honório. Assim como os personagens de Daniel Alvim, sem dúvida nenhuma é a responsável pela veia cômica da peça. Uma simples mulher que trabalha na imobiliária de Dr. Sabino e é apaixonada pelo mesmo, mas mantém relações com Xavier.
  • Vera Bonilha: Eudóxia, Maria Inês e Leprosa. A primeira personagem é a esposa de Dr. Sabino, muito preocupada com as aparências e sem se importar muito com a realidade de um casamento aparentemente falido. Maria Inês é a melhor amiga de Glorinha, outra jovem confusa com os sentimentos da idade apaixonada por Antonio Carlos e disposta a tudo para tê-lo a seu lado. A Leprosa é a esposa de Xavier que passa seus dias na cama, cega sendo cuidada pelo marido e que desconfia de sua fidelidade uma vez que além dessa relação de cuidados, não matem mais nenhum tipo de relação.

Serviço

Local: Teatro Tuca

Endereço: Rua Monte Alegre, 1024 - Perdizes

Estreia: 13/04/2013

Temporada: Até 30/06/2013

Horários: sextas e sábados às 21h30 e domingo às 18h

Ingressos: Sexta – R$50 / Sábado e Domingo – R$60

Duração: 130 minutos (intervalo de 10 minutos)

Censura: 16 anos

Ficha Técnica

Autor: Nelson Rodrigues

Adaptação e dramaturgia: Johana Albuquerque

Idealização e Direção geral: Johana Albuquerque

1º assistente de direção: Milena Gasparetti

2º assistente de direção: Carol Carreiro

Alfaiates: David Fuckner, Ismael Fajardo Hernandes e Pedro dos Santos.

Assessoria de imprensa: Morente Forte Comunicação

Assistente de cenografia: Carol Buček

Assistente de figurino: Karina Sato

Assistente de iluminação: Dhariel de Souza

Assistente de produção: Evelin Luppi

Cabelos: Marcos Proença Cabeleireiros, Didier Sé, Simone Petinatti, Tiago Aprisio, Umberto Luiz e Vinícius Silveira

Camareira: Neuza Padilha

Cenário e objetos de cena: André Cortez

Coach Diana Bouth: Carol Carreiro

Confecção de cortinas: Ana Lúcia Gomes, Benedita Calixto e Maria Aparecida da Rosa

Confecção de figurinos: Cleide Niwa, Judith Lima, Lúcia Medeiros e Nilda Dantas

Construção de cenário: Ono-Zone Estúdio - Fernando Brettas

Consultoria jurídica: Cássia Rockenbach

Contabilidade: Fato Assessoria Contábil

Contra-regra: Fioravante Almeida

Direção de produção: Clarissa Rockenbach e Fernando Padilha

Direção de vídeo: Renno Rosati

Diretor de palco: Maurílio Dias

Elenco: Daniel Alvim,Diana Bouth,Elcio Nogueira Seixas,Maurício de Barros,Regina França,Renato Borghi,Vera Bonilha

Figurinos e adereços: Simone Mina

Fotos: Alexandre Catan

Iluminação: Paulo Cesar Medeiros

Leis de incentivo: Patrícia Figueiredo

Limpeza de movimento e de coreografia: Roberto Alencar

Locução: Ronaldo Tapajós

Mixagem e masterização: Felipe Artioli

Montagem de luz: Danilo de Souza, Larissa Kaluzinski e Xuxa Nills

Musica original e trilha sonora: Pedro Birenbaum

Operador de luz: Francisco Turbiani

Operador de som: Dug Monteiro

Produção de cenografia: Carol Buček

Produção de figurino: Evelin Luppi, Fernando Padilha e Túlio Rivadávia

Produção de montagem: César Ramos

Produção e realização: Bendita Trupe, Teatro Promíscuo e PadRok Produções Culturais

Produção executiva: Gustavo Sanna

Produtores associados: Johana Albuquerque, Renato Borghi,Elcio Nogueira Seixas, Clarissa Rockenbach e Fernando Padilha.

Projeto gráfico: Helena de Barros

Sound design: Dug Monteiro, Felipe Artioli e Pedro Birenbaum

Visagismo: Leopoldo Pacheco

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