Uma inusitada Maria Rita

escrito por Ana Gomes

fotografias por Cibele Bueno

Pra quem chegou com bastante antecedência ao local do show foi possível observar a evolução do público: em sua maioria casais e já avançados os 30 anos, foram demorando a chegar – chegamos a suspeitar de que não haveria quorum.

Engano.

No Citibank Hall (São Paulo), às 22:30h de uma sexta-feira (04/11) que não se decidia a respeito do tempo, Maria Rita, exuberante em um tubinho preto, abre os trabalhos com “Conceição dos Coqueiros” e tem ao fundo apenas um infinito negro. O espetáculo não dependia de cenografia, mas ninguém ainda sabia.

Da terceira música em diante (“Cupido”) a platéia cantou todas, intercalando gritos, aplausos e declarações explícitas de amor pela cantora que, mais de uma vez, interagiu com bom-humor e arrancou risadas, tornando-se ainda mais íntima e justificando o nome que batizou a turnê.

“Elo”, seu quarto show a rodar o país, nasceu sem nome e, segundo ela mesma, de uma necessidade de retribuir a curiosidade e a simplicidade de quem a acompanha há tanto tempo.

Com Tiago Costa (Piano e Teclados), Silvinho Mazuca (Contrabaixo) e Cuca Teixeira (Bateria) o que parecia sem sentido mostrou ser, na verdade, uma costura bem acabada do que foi, até agora, a carreira da cantora. O samba, claro, estava lá, numa seqüência animada de “Cria”, “Num Corpo Só”, “Tá Perdoado” e “Maria do Socorro”, essa última com uma paradinha funk digna de Apoteose no carnaval.

A iluminação foi um show à parte. Sincronizada não só em tempo e ritmo, mas também com o sentido da música – em “Nem Um Dia”, por exemplo, o verde, o azul e o amarelo estavam lá. E teve Jazz, com uma versão diferente (e linda) de “A História de Lily Braun”. E quando achávamos que nada mais ia surpreender, Maria Rita reinventa “Menino do Rio” e, como é uma intérprete visceral, todos os que lá estavam tomaram, sim, a canção como um beijo.

A apresentação termina com a força de músicas d´O Rappa e nem alguns percalços na qualidade do som (incluindo uma microfonia chata) tiraram o brilho e daquele momento.

Entende-se porque a casa não poderia ficar vazia.

Maria Rita não precisa de argumentos pra convencer ninguém a ir vê-la. À vontade no palco, com seus meninos, como ela mesma os chama, é luz e encanto. Quando abre os braços, parece querer abraçar o mundo. E ninguém duvida que consegue.

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