Conversando com Mamãe aborda relações familiares

escrito por Leandro Reis

fotografias por Cristiano Rolemberg

Encontra-se em cartaz no Teatro Folha uma singela peça que se não fosse pela sua própria pertinência poderia passar desapercebida no agito e constante barulho de São Paulo.

Conversando com Mamãe, espetáculo nascido do filme homônimo argentino, trata da delicada relação entre uma mãe de 82 anos e um filho de 50. Ele, que se vê no meio de uma crise financeira ocasionada pelo repentino desemprego, é obrigado a pedir para que a mãe saia do apartamento em que vive para que possa vendê-lo e assim sanar suas dívidas. O conflito se dá quando, por consequência de sua ausência como filho, ele descobre fatos sobre a vida da mãe que desconhecia, como por exemplo o namorado com quem esta se relaciona há dois anos.

Beatriz Segall, que faz o papel da mãe com a competência que apenas atrizes de 85 anos de idade são capazes, não demora muito a cair na graça do público. É logo no diálogo inicial, quando ainda não entende o motivo da visita repentina do filho (Herson Capri), que ela corta um pepino numa ação tão corriqueira e bem executada que dificilmente não somos remetidos a qualquer figura materna relacionada diretamente a nossa infância. Outras ações igualmente simples e bem marcadas dão tempero aos 80 minutos de história, trazendo o realismo necessário a peças que exigem – ou se beneficiam – de algum tipo de identificação com um dos personagens.

Enquanto Beatriz Segall chega com todo o espetáculo assim que entra em cena, Capri vai ocupando seu espaço pelas beiradas, ganhando o público no contra-tempo da atriz. Se no começo ele serve basicamente como nosso condutor para o conflito central e apresentação ao personagem da mãe, logo ele vai se tornando a figura em primeiro plano no texto, que agora deixa a senhora simpaticamente ativa e levemente envolvente de lado e foca no filho que acabou de descobrir tais qualidades na própria mãe.

Este jogo de cena, aliás, onde os dois trocam o foco de maneira tão sutil e precisa, é um mérito da diretora (e também esposa de Capri) Susana Garcia, que dá ao espetáculo um ritmo que se mantém linear até o momento em que as luzes se acendem.

É como comentou o diretor Fernando Meirelles recentemente ao falar sobre o trabalho com os atores de seu novo projeto, o filme "360", marcado por nomes de peso: “É só deixarem eles fazerem o trabalho deles. Tem que dar espaço”. Susana parece seguir a mesma máxima do cineasta e confia no talento dos dois atores em cena, dando espaço para que o próprio texto traga a química pedida na relação no palco.

Aos poucos, quase sem perceber, a visita que Jaime faz a sua mãe se estende e vai envolvendo o filho em uma série de descobertas de pequenas qualidades e trejeitos. É quando percebe o quanto abdicou de tais descobertas que Jaime se permite dar ouvidos a mãe e passa a saborear a conversa sugerida pelo título.

Se o público presente der a mesma chance ao espetáculo, também deixando por algum tempo todas a crises financeiras e conjugais de lado, talvez tenha a mesma grata surpresa de Jaime ao ouvir as histórias contadas por sua mãe.

FICHA TÉCNICA

Dramaturgia: Santiago Carlos Oves Adaptação: Jordi Galceran Direção: Susana Garcia Elenco: Beatriz Segall e Herson Capri Figurino: Kalma Murtinho Cenário: Marcos Flaksman Iluminação: Paulo Cesar Medeiros Trilha sonora original: Alexandre Elias Design gráfico: Darlan Carmo Diretor de produção: Sandro Chaim Produção executiva e administrativa: Rose Dalney Assistente de produção: Nina Barreto Realização: Chaim Produções e Capri Produções

SERVIÇO

Local: Teatro Folha Estreia: 02/09/2011 Temporada: Até 18/09/2011 Horários: sextas, 21h30; sábados, 20h e 22h; domingo, 19h30 Ingressos: Sexta - R$50 (setor 2) e R$60 (setor 1) / Sábado e Domingo -R$60 (setor 2) e R$70 (setor 1)* Duração: 80 minutos Classificação etária: 12 anos

*Valores referentes a ingressos inteiros. Meia entrada disponível em todas as sessões e setores de acordo com a legislação

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