Capital Inicial: pulando sem pára-quedas
escrito por Leandro Reis
fotografias por Cristiano Rolemberg
O show do Capital Inicial não é feito para ser visto com olhos técnicos. Os músicos tendem ao exibicionismo, o vocalista pode ser classificado como “poser” e sua voz muitas vezes tem pouco destaque entre os demais instrumentos. Mas há algo que diferencia a banda não apenas do cenário pop rock nacional, mas da grande cena musical: crença naquilo que se está fazendo.
Após 40 minutos de atraso, o famoso riff de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, anunciou que a apresentação começaria. Com uma grande falta de timming que deixou os presentes se perguntando o porque do riff como introdução (no final, era apenas uma gravação), a banda surgiu no palco do Credicard Hall, saudada pelos fãs que enchiam pista, cadeiras e camarotes.
Concentrando maior parte do setlist no último CD, “Das Kapital”, o grupo foi dosando sucessos de sua carreira junto de algumas surpresas muito bem-vindas. Na quarta canção, “Que País É Esse?”, de Renato Russo, foi que Dinho Ouro Preto finalmente se entregou à platéia: “Toda vez que a gente vem para São Paulo pensamos ‘Não vai ter ninguém’, mas conseguimos encher a casa! Espero que a gente corresponda a expectativa de vocês!”.
Confiando nos sucessos da banda, o vocalista mal chegou perto do microfone em músicas mais esperadas, como “Natasha” e “Fogo”, que foram dominadas pela voz da platéia. Em “Não Olhe Pra Trás”, o vocalista aproveitou para pegar uma câmera e registrar toda a adoração dos fãs, se empolgando no final: “Foi demais! E eu filmei tudo! Acabei de fazer um videoclipe!”.
Durante vários momentos a banda deixou de lado o formalismo e cada música ganhou um ritmo próprio: hora é Dinho que se empolgou e estendeu uma canção em dois minutos apenas tocando violão, hora é o baixista Flávio Lemos que fez longuíssimos solos – mas não por isso menos oportunos.
A noite ainda contou com “Fátima”, de Renato Russo, e “Leve Desespero", do início da carreira. Dinho Ouro Preto também arriscou “Highway to Hell”, clássico do AC/DC, em homenagem aos 31 anos de morte do vocalista Bob Scott. Já “Whole Lotta Love”, outro clássico do rock, foi dedicada ao Led Zepellin e encerrou a noite, após o vocalista confessar “Não queremos ir embora, mas não temos mais o que tocar! Vamos tocar uma que não ensaiamos inteira ainda”.
É inútil citar as canções de um show do Capital Inicial quando na verdade a grande atração é ver os músicos divertindo-se com seu público, com sua música e com sua carreira. Uma banda para ver e ser compreendida ao vivo.
Setlist:
- Ressurreição
- Quatro Vezes Você
- Como se sente
- Que País é Esse?
- Respirar Você
- Natasha
- Como Devia Estar
- Leve Desespero
- Vamos Comemorar
- Fogo
- Não Olhe Pra Trás
- Primeiros Erros
- Vivendo e Aprendendo
- Marte em Capricórnio
- Fátima
- Veraneio Vascaína
- Mulher de Fases
- O Mundo
- À Sua Maneira
- Depois da Meia Noite
- O Passageiro
- Independência
- Whole Lotta Love