Bruna Surfistinha

escrito por Thiago Henrique

Quem diria que a trajetória da garota de programa Bruna Surfistinha, depois de vender milhares de exemplares do livro “O Doce Veneno do Escorpião” inspiraria uma nova adaptação para as telas do cinema, com Deborah Secco encarnando a personagem principal?

Pois é, isto aconteceu pelas mãos do diretor, quase estreante, Marcus Baldini (do curta “Sopa no Mel” de 1995 e do documentário“Sonho Verde” de 2006) que com sua experiência em dirigir videoclipes e filmes publicitários dá o seu toque para o que acredita ser uma história sobre “uma menina desencaixada que tenta encontrar seu lugar no mundo de forma conturbada”.

Esta menina desencaixada cujo verdadeiro nome é Raquel, cresceu em uma família de classe média, sempre estudou em bons colégios, mas nunca foi a mais popular e talvez seja por isso que tenha decidido fugir e viver em um prostíbulo onde passa a se chamar Bruna e enfrenta uma série de percalços como o fato de estar longe de casa, o preconceito das outras prostitutas e também o envolvimento com as drogas.

Segundo o próprio Baldini, ele relutou em aceitar Deborah Secco para o papel, pois não queria que a imagem e a sensualidade da atriz fossem relacionadas à personagem. A idéia era apresentar toda transformação de  Raquel com seus 17 anos em Bruna Surfistinha, a garota de programa que através de seu blog se tornou a mais famosa do Brasil, deste modo Deborah Secco precisava desenvolver tanto uma ingenuidade de uma garotinha quanto a sensualidade de uma mulher madura. No entanto, depois de conversar com a atriz, o diretor logo se convenceu ao ver Deborah com seus cabelos compridos cobrindo seu rosto e vestindo roupas mais despojadas parecendo muito mais nova do que realmente ela é.

Para construir seu personagem, Deborah preferiu se basear no roteiro e nos laboratórios que teve com prostitutas, tendo muito pouco contato com o livro, com o blog ou com a verdadeira Bruna. Podemos perceber as diferentes fases da personagem como a ingênua e rejeitada Raquel, seu começo como Bruna representada pela cena da primeira vez com um cliente, e finalmente a Bruna Surfistinha que se ilude com a fama, o dinheiro e as drogas.

Encontramos também participações especiais, como a da verdadeira Raquel fazendo uma recepcionista de restaurante e do jogador de futebol Dentinho como um cliente. A trilha sonora permeia todo universo de Raquel/Bruna indo do mais intimista ao escrachado: de Fake Plastic Trees (Radio Head) a Te Quero Tanto (Banda Ritmo Quente). Algumas músicas foram compostas especialmente para o filme como é o caso de Sunshine Girl interpretada pela cantora Céu.

Para os puritanos de plantão um aviso: tem cenas de sexo que podem ser consideradas ousadas. Mas convenhamos, trata-se da história de uma prostituta. Como se pode contar uma história dessas sem sexo? Tirar o sexo seria uma forma de romantizar a prostituição. Todas as cenas de sexo servem para pontuar a narrativa do filme, não sendo colocadas de forma gratuita. Cada cena, sendo de sexo ou não, tem sua razão para estar lá. Portanto, se você for assistir ao filme só por causa do sexo e da sensualidade, tome cuidado, pois você encontrará uma trama melhor elaborada, um drama feminino, um pouco cruel, pois não se trata de uma biografia fiel, mas de uma representação das muitas garotas que decidem seguir este tipo de vida.

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