Britney Spears e sua técnica (quase) perfeita

escrito por Ana Gomes

fotografias por Marcelo Rossi

Antes mesmo de iniciarmos essa conversa, vamos estabelecer alguns combinados: primeiro, aceitemos o fato de que Britney Spears faz uso, sim, de playback. Até porque, convenhamos, ninguém tornou-se fã pela acuracidade vocal da moça. Segundo, lembremos que ela não tem os 19 anos que a tornaram a princesinha do pop. Com isso esclarecido, podemos seguir – e tudo fará sentido.

Numa sexta-feira fria, dia 18 de novembro, SUV´s abarrotados de adolescentes com micro-shorts e um público assumidamente gay em sua maioria começava a lotar a Arena Anhembi, em São Paulo. Duas DJ´s fizeram o aquecimento dos que chegaram mais cedo e a sensação de liberdade imperava dos portões pra dentro. Famílias sentavam-se ao lado de grupos de meninos que namoravam, numa demonstração de civilidade que pouco se vê por aí. E todos, juntos, fizeram contagem regressiva como se estivessem no réveillon de Copacabana quando o marcador no telão mostrou os 10 segundos que faltavam. Pontualmente às 22h o show teve início com vídeos e efeitos especiais, até que ela surge, com pompa e circunstância, num maiô prateado. Mais diva, impossível.

Começou com Hold It Against Me (meio morna), depois veio com lingerie em Big Fat Bass, de Cleópatra em Gimme More e, pra completar, encarnou uma Marilyn Monroe em If You Seek Amy. Ainda teve Womanizer, Piece of me, Baby One More Time, mas nada de OOOps…I Did It Again. Nada mal, mas a plateia delirou quando ela atacou de Rihanna com S&M. Aliás, muito importante dizer que poucos artistas conhecem e sabem manejar seus fãs como Britney.

Por quê? Ora, a considerar a maioria que pagou uma média de R$ 150,00 para vê-la, os vídeos de homens sarados e o apelo sexual que pautou todo o espetáculo são, por si só, a representação de que ela sabe com quem está falando, e mais: sabe levá-los ao êxtase.

Justamente por isso o show foi inesquecível para aqueles que, por serem fãs, não possuem a criticidade do resto do mundo. Coreografias ensaiadas e uma Britney plástica, que lembrava a naturalidade de uma Barbie (inclusive no cabelo), em boa forma para uma mulher normal, mas considerada acima do peso para os circuito Hollywood – Los Angeles.

O que surpreendeu, de verdade, foi a estrutura da Arena. Limpeza, policiamento, boa cerveja, preços não abusivos e um estacionamento decente, no preço e na organização, chamaram a atenção. Como nem tudo é perfeito e banheiro químico é sempre banheiro químico, destaco esse como o único senão da festa. Até o cachorro-quente dos vendedores ambulantes era de primeira.

Depois de 1h20min de luzes, vídeos, interações digitais (David Guetta surgiu gigantesco no fundo do palco), até o bis foi premeditado. O vídeo (sempre bélico) continua e ela surge com Toxic e Till The World Ends; suspensa em asas, o final foi digno de uma pop star, que é o que ela realmente é: fogos, fumaça, chuva de papel picado e 30 mil pessoas em delírio coletivo.

Depois de ontem, tenho certeza de que, se você perguntar a algum fã, “Who run the world?” a resposta vem na hora: It´s Britney, bitch ;)

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